O mundo animal é cheio de surpresas, com criaturas como as lagartixas, que são capazes de perder a cauda e regenerá-la. Mas existem proezas ainda mais inusitadas: é o caso de duas espécies de lesma-do-mar (Sacoglossa), descritas por pesquisadores japoneses, que arrancam a própria cabeça para regenerar um novo corpo alguns dias depois.
Os dois animais foram descritos em um estudo, publicado nesta segunda-feira (8) no periódico Current Biology. Os cientistas dizem que essas lesmas ganham um coração e outros órgãos internos do corpo durante o processo de regeneração, que ocorre após um processo de autoflagelação.
Mas, por que essas lesmas-do-mar fazem isso? Calma, não é que elas sejam masoquistas. Os cientistas acreditam que essa capacidade as ajuda a remover parasitas internos que inibem sua reprodução.
A descoberta dessas criaturas ocorreu por acaso, quando a autora principal da pesquisa, Sayaka Mitoh, da Universidade Feminina de Nara, no Japão, estava no laboratório do coautor, Yoichi Yusa, onde são criadas lesmas-do-mar. Lá ela testemunhou os animais se movendo sem o corpo duas vezes.
“Ficamos surpresos ao ver a cabeça [das lesmas] se movendo logo após a autotomia [liberação do corpo após automutilação]”, relata Mitoh, em comunicado. “Pensamos que ela [a lesma] morreria em breve sem um coração e outros órgãos importantes, mas ficamos surpresos novamente ao descobrir que regenerou todo o corpo.”
Os pesquisadores também notaram outro comportamento bizarro: a cabeça das lesmas, separada do corpo, começava a se mover. Alguns dias depois, a ferida causada pela automutilação se fechava. As cabeças das mais jovens andavam sozinhas, alimentando-se de algas.
Sete dias depois, ocorria o processo de regeneração do coração, que terminava em três semanas. A cabeça das mais velhas, todavia, não se alimentava e morria antes disso, em cerca de 10 dias. Já seu corpo ainda apresentava sinais de vida ao serem tocados por dias ou até meses.
Os pesquisadores tentam entender como esses animais conseguem arrancar a própria cabeça e continuar seu ciclo de vida tão tranquilamente. Mas a principal suspeita é que as lesmas-do-mar possuem células parecidas com células-tronco no pescoço, o que as dá capacidade de autorregeneração.
Além disso, a cabeça das lesmas sobrevive até o final dessa regeneração graças às algas que elas comem. Essas plantas marinhas, por meio de suas organelas chamadas cloroplastos, oferecem para as criaturas uma capacidade fotossintética, que as permite fabricar seu próprio alimento – processo chamado de cleptoplastia.
Galileu