Bairro da Zona Oeste, o Recreio dos Bandeirantes no Rio de Janeiro é cheio de misturas e contrastes. Ao caminhar pela Rua Professor Hermes de Lima, por exemplo, é possível observar, de um lado, um conjunto de edifícios imponentes de alto padrão, com apartamentos de luxo que chegam a custar R$ 3 milhões.

Do outro lado da via, a sensação é de que não se está mais a três quadras da praia e, sim, no Centro-Oeste brasileiro. Afinal, a rua segue a margem do Canal das Taxas, uma espécie de santuário para jacarés-de-papo-amarelo, capivaras, cobras e aves, entre outros animais silvestres, alguns ameaçados de extinção.

De acordo com especialistas, a região concentra o que sobrou dos ecossistemas originais da capital fluminense, com lagoas, manguezais, restingas e brejos, que deram ao Recreio o apelido de Pantanal carioca.

Habitantes famosos do Recreio, os jacarés eram vistos com frequência passeando pelo trecho urbano do pedaço até que as margens do canal ganharam proteção, há pelo menos cinco anos, com a instalação de uma cerca formada por tocos de árvores e grades. Garantiu-se, assim, a convivência pacífica entre répteis e humanos.

“É um alento morar de frente para a natureza, com esse clima pantaneiro, bucólico, que transmite a paz. Sempre antes de colocar meu filho para dormir, desço e caminho com ele pela margem. Vira uma distração, um programa ecológico que adora. E ele pede para ir na rua ver os jacarés”, conta a dentista Bianca Hertz, de 34 anos, mãe do pequeno Heitor, 1. Segundo ela, os bichos são excelentes vizinhos, que respeitam seus limites.

“O problema é que o ser humano não respeita. As pessoas jogam lixo, restos de tudo no canal. Arremessam latas e garrafas para o bicho se mexer e ver a reação dele. Alguns comem esses resíduos quando abocanham para se defender. É lamentável”, reclama ela, moradora do local há seis anos.

Zeladora há 13 anos do Edifício Alexandrina, Elisabeth Neves, 52, herdou a função do pai, de quem ouvia histórias dos “lagartos gigantes” da vizinhança. Conta que a última vez que um jacaré deixou o canal foi durante uma cheia, após dias de chuva intensa. “A água subiu e um deles acabou indo parar na garagem do prédio vizinho. Foi uma atração e o bicho acabou resgatado pelos bombeiros. Acho o maior barato”, diverte-se ela, que viu a região reforçar sua vocação para ponto turístico nos últimos tempos.

 

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